Thursday 30 October 2008

Mariza - coração e dor

Não é muitas vezes que se ouvem referências a Portugal ou à língua portuguesa por estas paragens, mas num jornal diário saiu ontem um grande destaque para o concerto de Mariza a ter lugar no próximo dia 9, no Oslo Konserthuset, integrado no World Music Festival.
Com uma página ocupada inteiramente por uma foto e outra página com uma pequena entrevista, discografia e uma crítica ao seu último disco, assim se faz a introdução do fado e da artista a um país não propriamente familiarizado com o género musical ou com a cultura portuguesa, for that matter (para além da praia e do bacalhau).
A entrevista, ou o entrevistador, passa de relance pelas origens do fado (e da artista), passa pelo lugar mais ou menos comum da expressão de sentimentos/ sofrimento (????), terminando com o carácter político do fado (?) sobretudo durante o Estado Novo. Se bem que música não seja propriamente o meu campo de acção, e as minhas desculpas aos mais entendidos, não pude deixar de me questionar: é o carácter político do fado, enquanto estilo musical, a melhor forma de o apresentar no estrangeiro? É o Estado Novo uma realidade com a qual a sociedade norueguesa esteja familiarizada? Será o título "Hjerte og smerte" (coração e dor) a melhor forma de descrever a música de Mariza? Muitas questões ficaram no ar mas no final, pergunto-me se esta forma de introduzir uma artista e um género musical desconhecidos contribuirão para uma sala cheia. Veremos.
Como a própria diz às tantas, fado é mais que política, mais que "coração e dor", ultrapassando fronteiras e idades, ultrapassando inclusivamente a "barreira" da língua. Silêncio que se vai cantar o fado (no próximo domingo, em Oslo)



Saturday 25 October 2008

Museu Whitney de Arte americana

Da autoria do arquitecto e designer Marcel Breuer (1902-1981), o Whitney Museum of American Art, fundado pela escultora e coleccionadora, Gertrude Vanderbilt Whitney em 1931, alberga uma das mais importantes colecções de Arte americana do século XX.
Construído entre 1963-66, o Museu constitui uma das obras mais marcantes do arquitecto inserido frequentemente no designado Estilo Internacional. A sua volumetria, o revestimento em granito cinzento, as poucas e salientes aberturas contrastam com a envolvente da Madison Avenue, tornando o edifício em algo intrigante à partida. A organização espacial do interior provoca o mesmo sentimento de descoberta e intriga.
Dada a numerosa colecção um novo núcleo do Museu está já planeado com abertura prevista para 2012, da autoria de Renzo Piano.

Sunday 12 October 2008

Centro de Arte Henie-Onstad , Bærum

A apenas 25 minutos de Oslo encontra-se o Centro de Arte fundado pela campeã olímpica e mundial de patinagem no gelo Sonja Henie e pelo marido, Niels Onstad, em 1968.

O museu com o nome do casal foi fruto de um concurso nos anos 60 do qual saíram vencedores os arquitectos Jon Eikvar e Sven Erik Engebretsen, com uma proposta que pretendia contrariar a geometria regular e os espaços quadrangulares uniformes do Movimento Moderno, optando por uma linha mais expressionista, ligada no caso nórdico a Alvar Aalto, através da criação de espaços de formas mais orgânicas e irregulares.

Nos anos 80, o museu necessitava de mais espaço, assim sendo os arquitectos desenharam uma proposta em que esta nova expansão respeitava a filosofia inicial do projecto, apesar da distância temporal e do facto de estar perfeitamente integrado com o edifício original, fazendo a diferenciação através de desníveis e pés-direitos que claramente correspondem a outro tipo de espaço. Entre várias diferenças, seria de assinalar a luz indirecta, que, se no edifício original é difusa (qual cidade submarina), nesta extensão a atmosfera é mais fria e crua .

Em 1994, uma nova ala foi inaugurada, também da autoria dos mesmo arquitectos, já com uma filosofia completamente diferente, relacionados com as alterações do contexto mas também com o amadurecimento dos próprios arquitectos. Os materiais "internacionais" foram abandonados e foi feita uma reinterpretação dos materiais locais adaptando-os a uma linguagem formal mais ligada à realidade quotidiana.
De destacar, o excelente trabalho de madeira, estrutural e aparente, apresentado sem tratamentos nem pinturas. Madeira crua, rugosa, que magoa quando passamos a mão, e duas ou três aberturas pontuais que enquadram pontos edílicos da paisagem envolvente.

O pretexto para a ida ao museu, foi uma exposição de desenhos do pintor Paul Klee, que fizeram as delícias de um domingo chuvoso.

Monday 6 October 2008

Hearst Tower


A Hearst Tower, apesar de recente, encontra-se envolvida num conjunto de simbolismos, significados, ao mesmo tempo que é, a vários níveis um sinal de esperança. Num sentido, foi a primeira torre a ser concluída depois do fatídico 9/11, por outro, a primeira torre "verde" da cidade, sinal de optimismo para a sustentabilidade de uma mega-metrópole vs ambiente.Desde 2006, Nova Iorque ostenta o seu primeiro "Green building", da autoria de um "Sir" há muito envolvido nestas matérias, Norman Foster. Tal como o arquitecto tem vindo a desenvolver, esta torre incorpora um conjunto de estratégias que irão permitir uma redução significativa dos custos energéticos do edifício, do mesmo modo que se procedeu à utilização de vários materiais reciclados para a sua construção, nomeadamente, 80% do aço empregue é reciclado.
Obviamente, todas as questões ambientais são há muito uma preocupação dos profissionais da área, mas em muitos casos tem acontecido que, na perspectiva da auto-suficiência energética e todos os temas afins, dir-se-ia que os conceitos arquitectónicos são basicamente esquecidos e transforma-se o edifício numa máquina de poupar energia esquecendo-se que arquitectura é também espaço, e mais ainda, espaço qualificado (para além do sentido físico que a própria questão envolve).

Pois esta torre, apresenta claramente uma imagem forte que (acredito) envolva um conjunto de espaços, diferenciados, apelativos, com características de luz variáveis, tranformando espaços de escritórios / lugares de trabalho em algo motivador / inspirador. Obviamente que estamos também a falar de imagem / media, tão ao estilo do Sir, mas porque não, desde que isso contribua para criar a fun-cidade (qual fun-palace).

Além do mais, dizem eles. a estrutura triangular, poupa na quantidade de aço estrutural empregue. Ganhamos todos!

Thursday 2 October 2008

MAD ( Museum of Arts and Design)

O Museu das Artes e Design, em Nova Iorque, tem prevista a sua reabertura para estes dias, apesar de uma difícil e controversa batalha em que esteve envolvida a "reabilitação" do edifício original da autoria de Edward Durell Stone.

A proposta, agora construída, da autoria do arquitecto Brad Cloepfil (Allied Works Architecture), continua a receber as mais fortes críticas de arquitectos, críticos e imprensa, sobretudo relativas à destruição do edifício original, considerado património da cidade. Para além disso, críticas têm sido feitas relativamente ao próprio design, materiais, detalhes, todos os aspectos têm servido para continuar a alimentar esta polémica (justificada?).

Para quem não vive(u) em Nova iorque e não pôde experienciar o edifício original, é este Museu um projecto assim tão mau? É um projecto sóbrio (daquilo que é possível concluir a partir do exterior) com um uso racional de materiais e cores que incorpora ainda uma linguagem abstracta através de manchas e linhas que atribuem às fachadas uma certa dinâmica, sem recorrer a soluções espampanantes tipo Gehry. Talvez não seja um edifício de leitura imediatista (mesmo pelos críticos???) mais ao estilo americano, mas o MAD não é um mau projecto. O tempo o dirá. Se assim for, e numa cidade que se altera/muda/renova à velocidade de Nova iorque, este edíficio será substituído por um melhor (?) no prazo de 20/25 anos (se tanto).

Sunday 28 September 2008

American Folk Art Museum (AFAM)

Precisamente ao lado do MoMA existe um outro museu, que provavelmente passa mais despercebido (qual peso da fama!) que poderíamos chamar de Museu Americano de Arte Popular. A colecção, criada a partir de 1961, apresenta a obra de artistas auto-didactas, ou artistas não consagrados, ou seja, daqueles que estão fora do sistema que o próprio mercado da Arte criou.
O novo edício onde está instalada a colecção, inaugurado em 2001 pela mão do atelier Tod Williams & Billie Tsein, contribuiu para uma maior visibilidade da própria colecção, que, como acontece frequentemente, utiliza a arquitectura de destaque (capa) para valorizar a própria colecção (conteúdo), não necessariamente mau, dependendo do modo como tais situações são manipuladas.
No entanto, e apesar de estarem paredes-meias, a sede deste museu consegue ostentar uma fachada, pelo menos, mais apelativa que o seu vizinho Museu dos artistas consagrados (MoMA). Não que algo se possa reduzir à fachada (um projecto não são apenas fachadas), mas numa leitura talvez simplista, de análise directa de ambas as fachadas, e apesar de conceitos distintos, este AFAM desperta a curiosidade e alerta os sentidos. O dramatismo dos 3 planos que compõem a fachada, a cor cobre escolhida como material de revestimento, os reduzidos rasgos de aberturas que condicionam e direccionam a entrada de luz no edifício contrastam com a fachada do seu vizinho, mais apaziguadora, mais "limpa", menos dramática, uma fachada plana com 3 rasgos horizontais.

Curiosamente, o Museu dos não-consagrados, com a sua fachada de arquitectos não-consagrados (apesar do edifício ter ganho vários prémios de arquitectura, este casal de arquitectos permanece relativamente anónimo) desperta secretamente mais interesse que o vizinho Museu dos consagrados, com o seu arquitecto consagrado. Paradoxo? Ou sinal de uma sociedade que apenas vê Stars?

Saturday 27 September 2008

MoMA

O MoMA (Museum of Modern Art) constitui um dos museus mais influentes do mundo em termos de Arte moderna, abrangendo a sua colecção campos como a arquitectura, design, pintura, desenho, impressões, etc., não surpreendendo portanto as verdadeiras romarias e as filas intermináveis para entrar no museu. De tal forma que para conseguir observar algumas das peças é necessária uma grande dose de paciência, sobretudo no que se refere ao nomes mais sonantes de pintores do século XX.
O edifício original, projectado por Philip Goodwin e Edward Durel Stone, foi aberto ao público em 1939, sofrendo o edifício grandes obras de renovação (2002-2004) pela mão do arquitecto nipónico Yoshio Taniguchi, envolvido, como seria de esperar, em numerosas críticas e protestos.

No edifício é de salientar a organização em torno de dois espaços centrais: 1- o grande vazio interior que desempenha um papel fulcral na comunicação visual entre os diversos pisos, funcionando com ponto de refência num museu destas dimensões, evitando a sensação de desnorteo; 2- o magnífico Jardim das esculturas, pequeno Éden no centro de Nova Iorque, presença constante durante a circulação no interior do Museu, proporcionando ao mesmo tempo a entrada de uma luz natural e suave no interior das galerias.

De entre a gigantesca colecção destacaria a secção de arquitectura, com numerosos desenhos, maquetas, fotos, etc. dos mais consagrados arquitectos dos ultimos 100 anos.

Sunday 21 September 2008

Andy Warhol by Andy Warhol





(foto recolhida da internet)

O Museu Astrup Fearnley tem o orgulho de apresentar ao público a exposição mais cara alguma vez organizada na Noruega. Os números são exurbitantes, o que é perfeitamente justificado pelo facto de se tratar de um dos artistas mais cotados no mercado, bem como pelo facto de a grande maioria das obras expostas ser oriunda sobretudo da Europa e Estado Unidos. Surpreendentemente, mas talvez por se tratar do País das Maravilhas, a entrada é gratuita. (No aclamado Museu Munch o preço normal dos bilhetes é 10€ por pessoa).
Segundo a organização, esta exposição pretende mostrar o lado mais pessoal do artista, ou em que medida é que existe um lado pessoal na obra de um artista como Andy Warhol (1928-1987) ou como é possível separar o lado pessoal da obra em si. Como seria de esperar, exposição acaba por cair nas imagens mais conhecidas do artistas e nas suas preocupações/ relações com a sociedade do tempo: a guerra, as personalidades icónicas do século XX, os produtos de consumo quotidiano, a sexualidade, a morte e os auto-retratos. Destaque seja feito para um conjunto de videos do artista apresentados em diversas pequenas salas. Destaque também (ou não estivéssemos nós na Noruega) para uma intrepretação de O grito e da Madona (ambos do pintor Munch) e um retrato da Princesa Sonja (actual rainha da Noruega, na imagem).
Apesar da pequena área do Museu, foi conseguido apresentar uma parte significativa da obra do artista e como seria de esperar (mesmo num país onde o artista não é particularmente conhecido) o público afluiu de forma significativa, sobretudo crianças e bebés (e não seja usada a desculpa clássica de que eram escolas, pois tratava-se de um sábado de manhã, e íam ao colo dos pais).
Uma boa oportunidade para ver importantes obras de Andy Warhol (sobretudo os vídeos). A decorrer até 14 de Dezembro, para quem passar por estas paragens.

Saturday 20 September 2008

Guggenheim

(Richard Hamilton, The Solomon R. Gyggenheim - Architect's visual, 1965)


O Museu Guggenheim será por ventura uma das maiores atracções de Nova iorque, e com razões para isso. A Fundação Solomon R. Guggenheim foi fundada em 1937, com o objectivo específico de divulgar arte moderna e pós-moderna, ou como era chamada na época "arte não-objectiva". Nas últimas décadas, a Fundação seguiu um política, bastante polémica e controversa, de criação de diversas filiais (Veneza, Bilbau, Berlim, Las Vegas) sendo que quase todos os anos, durante os tempos mais recentes, têm sido anunciadas novas filiais pelo mundo inteiro, projectos que mais cedo ou mais tarde, e por razões diversas, acabam por ser abandonados.

Se bem que uma série de críticas tenha sido levantada pelo facto desta dispersão de museus "Guggenheim's" pelo mundo e pela entrega de tais projectos a arquitectos-estrela da cena internacional (Zaha Hadid, Rem Koolhaas, Jean Nouvel, etc), a verdade é que, no original, o projecto do primeiro museu foi também entregue a um arquitecto-estrela, já na altura, dando origem a uma obra escultórica, constituindo um marco da chamada arquitectura moderna.

Independentemente dessas questões, o Guggenheim de Nova Iorque constitui um ícone da Fundação e da própria cidade. Inaugurado em 21 de Outubro de 1959 (seis meses após a morte do arquitecto), e envolto em enormes polémicas (nomeadamente, como fixar quadros em paredes côncavas?, o que levou a uma abaixo assinado por vários artistas recusando expor neste museu), o projecto do arquitecto Frank Lloyd Wright (1867-1959) constitui o primeiro espaço permanente para a colecção da Fundação. Ao edifício original seria adicionado em 1992, uma torre rectangular, da autoria do atelier Gwathmey Siegel & Associates Architects.

Numa época em que muitas questões eram colacadas e em que o próprio paradigma da obra de arte estava em tranformação, foi considerado pelo arquitecto que o próprio paradigma da arquitectura de museus, bem como a forma de exibição de Arte deveria ser questionado. Estas questões levaram ao desenvolvimento de um projecto de museu pioneiro que tentava adaptar o espaço aos novos modos de arte, de contemplar arte, de viver a experiência artística que o século XX proporcionava.
Seguindo princípios do movimento moderno, a utilização de formas e volumes puros, Frank Lloyd Wright criou um espaço de alguma forma abstracto (relacionado também com a própria Arte a ser apresentada) recusando referências historicistas, como era então prática comum para este tipo de programa. Desde os volumes essenciais do edifício aos pormenores mais delicados, tudo obedece a estas preocupações "puristas" da arquitectura moderna. No entanto, aquele que é o aspecto mais inovador do edifício é a organização da circulação no espaço, nomeadamente, a criação de um precurso expositivo claro e assumido, através da organização do espaço através da grande espiral, apartir da qual são organizadas as obras de arte. Contrariamente a tudo o que tinha sido construído até então, e seguindo os modelos oitocentistas do museu-depósito onde o visitante é literalmente "entregue às feras", o Museu Guggenheim estabelece claramente o precurso, transformando a visita a um museu em algo mais metódico e organizado, por outro lado menos livre e pessoal.

Embora esta postura possa hoje ser questionada, a verdade é que constituiu o início de uma longa discussão sobre a arquitectura de museus, que obviamente não tem UMA resposta única e decisiva, mas que abre as portas ao repensar do espaço tendo em conta uma série de outros factores como o tipo de obra a exibir, o(s) tipo(s) de público a que se dirige, aspectos de conservação das obras, o museu enquanto ícone ou ponto marcante na paisagem urbana, etc...

Este edifício remete também para uma outra questão que é a efemeridade da arquitectura enquanto obra construída. Se bem que o interior tenha sofrido obras de restauro, aquando da expansão em 1992, o exterior tem sofrido ao longo dos últimos dois anos um cuidado processo de restauro, provando que nada é permanente e que o envelhecimento dos edifícios deve ser aceite e que deverá ser tido em conta aquando da fase de projecto.

Monday 15 September 2008

Mies e o Seagram


Finalizado em 1958, o edifício Seagram, da autoria da dupla Mies van der Rohe (1885-1969) e Philip Johnson, constitui um marco da história da arquitectura pela inovação da utilização dos seus elementos metálicos estruturais sem (supostamente) qualquer tipo de revestimento. De acordo com Mies, e com os princípios de um chamado "Estilo Internacional", o edifício deveria reflectir a sua própria estrutura, de um modo "verdadeiro" e "assumido". No entanto, devido aos regulamentos americanos contra-incêndios, um edifício não poderia ter à vista colunas de aço (por perigo de colapso em caso de exposição a altas temperaturas), assim sendo o arquitecto viu-se obrigado a revestir as colunas com perfis em I de cor bronze, que constitui aliás a imagem do edifício.


Este foi, ao tempo, o arranha-céus mais caro do mundo, tendo em conta os seus 38 pisos decorados com materiais como bronze, travertino e mármores. Uma das lendas em que está envolvida esta torre é a questão das persianas. Mies tinha horror ao desorganizado, ao aleatório, à "confusão", e consciente de que a utilização das persianas por parte dos ocupantes do edifício iria criar diferentes "fachadas", e um aspecto pouco regular, o arquitecto limitou o cerramento das persianas a três posições: aberto, meio-fechado e fechado totalmente!!! Nos dias que correm, provavelmente teríamos um enorme processo judicial por adoptar tal medida!!!

Outra das polémicas em que Mies se viu envolvido aquando deste projecto foi a não utilização de toda a área da propriedade optando pela criação de uma zona privada de carácter público, criando algo semelhante a uma praça, optando pela construção em altura, a qual o arquitecto teve de defender junto do cliente, argumentado que este "desafogo" traria uma melhor imagem ao projecto. Esta medida, bem como os métodos construtivos empregues, tornar-se-iam vulgares na construção de outros arranha-céus da cidade, sendo hoje opções completamente banais.


É certo que, com toda a construção envolvente, o edifício Seagram passa hoje despercebido, no entanto, não deixa de ser fundamental na compreensão da história dos arranha-céus, em particular, de Nova Iorque.

Friday 12 September 2008

ONU


A Sede da Organização das Nações Unidas teve por base uma proposta inicial dos históricos Oscar Niemeyer e Le Corbusier, tendo sido construído entre 1949 e 1952, mantendo-se ainda hoje como um marco na cidade de Nova Iorque. No entanto, Manhattan não foi a primeira opção, não tendo sido sequer uma decisão consensual. Como seria de esperar num projecto desta dimensão nem todas as decisões foram consensuais, e mesmo no que diz respeito aos códigos construtivos e contra-incêndios algumas das regras tiveram de ser quebradas.

O conjunto, embora actualmente um pouco apagado pelos grandes volumes envolventes, continua a ter o esplendor de um bela obra modernistas onde os traços de ambos os arquitectos-base do projecto estão bem marcados. Talvez pelo equilíbrio entre as linhas horizontais e as verticais, talvez pelo contacto com o plano de água, talvez pelo contraste com a envolvente, o conjunto desperta a atenção, sedunzindo os traseuntes.
Se em Nova Iorque, a leitura das linhas e dos planos verticais se impregna na memória, este projecto salta à vista pelo balanço entre o grande volume paralelipipédico vertical e o volume da Assembleia, mais horizontal. Consciente de que poderá não ser uma das primeiras opções numa viagem a Nova Iorque, a visita à Sede da ONU recomenda-se (visitas guiadas no interior disponíveis).

Tuesday 9 September 2008

New York, New York, Rentrée


O Verão é, para a maioria, tempo de férias, descanso, ou trabalho. As ocupacões são várias e os Apontamentos foram de férias. A famosa rentrée representa o regresso à actividade da maioria e com isso os Apontamentos voltam a ver a luz do dia como post-it's colados no ambiente mais quotidiano de qualquer vida.

Os Apontamentos deste Verão foram a paragens Nova iorquinas e são muitos e variados.

Nova Iorque é talvez uma das cidades acerca das quais foram criados mais clichés. Através do cinema, música, literatura, séries telivisivas, etc... Em grande medida, sim, corresponde. Mas não só. Nova Iorque é isso e muito mais. Do ponto de vista Urbano, Arquitectónico, Social... Nova Iorque é Um / O mundo. Sínteses? Será difícil, e receio, que as minhas competências possam não estar à altura de tal trabalho. Durante os próximos apontamentos ficarão algumas visões, obviamente pessoais, em todos os sentidos condicionadas pelo olhar do observador.

Para o "turista" europeu, não me consigo recordar de nenhuma cidade no velho Continente que, ainda que de forma simplista, possa servir como exemplo de comparação ou de aproximação a uma leitura da "Grande maçã". Nova Iorque é diferente de tudo e ao mesmo tempo é possível reconhecer "bits and pieces" do resto do mundo, seja do ponto de vista social, cultural ou arquitectónico. Nova Iorque é em muitos sentidos o que de "melhor"(?) o mundo e a cultura contemporânea têm para oferecer (ou será isto apenas mais um cliché?). Eventualmente, tudo isto soa a ideias correntes e banais, mas foi efectivamente a experiência vivida / sentida.

A cidade enquanto justaposição das mais diferentes culturas, tempos, ideias, conceitos. A cidade enquanto amálgama (Caos, se quiserem) que funciona.

Saturday 28 June 2008

Maison La Roche


Esta recente reaproximação a Le Corbusier levou-me a pensar noutras obras do arquitecto que tivesse experienciado. Na tentativa de entender esta coisa da "poética", fui rever as fotos da Maison La Roche, em Paris. Um arquitecto que primava pela ideia do racionalismo máximo e das máquinas, onde estava exactamente esta ideia da "poética"?


Obviamente que a poética da máquina foi (e continua a ser) desenvolvido por diversos movimentos ou arquitectos. No campo da Arquitectura, poética é geralmente usada num discurso menos ligado à automatização e mesmo à racionalidade e mais ao sentido do único, do especial, ao mundo dos sentidos.

O caso de Le corbusier é paradigmático da complexidade da Arquitectura, do projecto e de tudo o que a ele está associado. Que me seja permitida esta visão bipartida da poética, mas efectivamente a leitura pessoal que faço deste conceito leva-me a distinguir uma "poética do racional" e uma "poética do sensível" (os nomes são meramente provisórios e pretedem apenas constatar duas aproximações distintas ao projecto).


No exemplo da Maison La Roche, são óbivios alguns dos traços do pensamento racionalista de Le Corbusier, sobretudo quando observado do exterior: a geometria das caixilharias, a simplicidade dos volumes, etc. Quando no interior, as geometrias rigorosas, que também existem, proporcionam espaços de contemplação, de fruição, não se tratando já de um jogo de volumes, puro e simples, mas existe efectivamente uma ideia de espacialidade, de diferentes experiências de especialidade. Sendo óbvio que todo o processo de fazer Arquitectura passa por um processo de racionalização de conceitos e sentidos, é também verdade que em algumas obras, mesmo depois de todo um longo precurso, permanecem estas ideias de sensibilidade das formas e dos espaços.



Friday 27 June 2008

Um salto a Lisboa, uma viagem a Le Corbusier


Poupo-me desde já à caracterização da obra ou mesmo do arquitecto conhecido como Le Corbusier, da importância da sua figura bem como do contibuto que representa para a história da Arquitectura, da influência que constitui em muito do que fazemos e vemos na actualidade. Uma pesquisa rápida dará mais e melhor informação do que poderia aqui inserir.

Assim sendo, refiro-me à exposição (patente no CCB, Lisboa, até 17.08.2008) Le Corbusier - Arte da Arquitectura. Organizada pelo Vitra Design Museum Weil am Rhein, em colaboração com o Netherlands Architecture Institute e o Royal Institute of British Architects, esta constitui a maior exposição do arquitecto em Portugal.

Exposições de Arquitectura (ou de arquitectos) constituem, regra geral, um monstruário (facilitismo?) de maquetas e uns painéis (muitas vezes de qualidade gráfica duvidosa). Esta constitui de certo uma das melhores exposições (de arquitectura) que alguma vez tive a oportunidade de ver. As maquetas, elemento fundamental para a compreensão de um projecto (sobretudo por parte do público alheio a estas matérias) estavam lá, as originais (de estudo) e as feitas à posteriori. Painéis, nem vê-los. O público agradece. Em vez de isso, optou-se por mostrar os desenhos originais do arquitecto /artista. Desenhos de projecto. Desenhos de viagem. Pinturas. Esculturas. Mobiliário. Para alguém que era um desenhador compulsivo, esta será provavelmente a melhor forma de homenagear a obra e o arquitecto.

A exposição percorre os pontos altos da sua longa carreira enquanto arquitecto, mas como o próprio menciona "Não existem escultores só, pintores só, arquitectos só. O acontecimento plástico realiza-se numa forma una ao serviço da poesia" e nesta medida são mostrados os vários campos a que, de forma diferenciada, o artista foi dedicando atenção, tempo e trabalho ao longo da sua vida.

A exposição não é (nem é suposto ser) uma catalogação infinda da sua obra, mas sim um modo de dar a conhecer o carácter multifacetado da sua obra (maioritariamente conhecida do ponto de vista arquitectónico), aliando inclusivamente objectos do foro pessoal, que de alguma forma revelam as inspirações do arquitecto / artista.

A nao perder! (mesmo para os menos familiares com as lides do espaço)

Sunday 8 June 2008

Janelas


Janela é referenciada normalmente com "um vazio num pano opaco", relacionado em geral ao uso de um material transparente ou translúcido. No entanto, a ideia de vazio associado ao elemento "janela" tem-me provocado alguns momentos de reflexão. Se vazio significar ausência, se significar "zero", pode uma janela ser um vazio?

Na Idade Média, por razões que para este caso nao têm tanta relevência, as ditas janelas, aberturas nos panos verticais de um edifício, eram molduras para magníficos vitrais, cujo papel pedagógico é inquestionável, transmitindo um saber e um conjunto de conceitos que moldavam uma sociedade. Eram janelas, vazios?

Ao percorrer a cidade, em deambulações várias, encontro-me geralmente na tentação de tentar descobrir o que está por detrás deste panos transparente (fetiche voyeurista?) e normalmente aquilo que consigo captar são reflexos da realidade circundante ou momentos interiores de um quotidiano banal. Seja em que caso for, não consigo ler estes, geralmente, rectângulos de vida como ausências.

Quando no interior, e perante uma janela fechada, aquilo que o meu olhar consegue alcançar não são os reflexos, não são os quotidianos interiores, mas sim uma vida exterior. Exterior ao espaço onde estou, exterior a mim, numa acção na qual não participo.

As janelas constituem na maior parte das vezes importantes elementos na definição/ composição da própria fachada, como material sólido e corpóreo, chamados (de forma simplista e, acrescentaria, errónea) como vazios. O transparente, se o quisermos ler como vazio, só muito raramente, e em situações muito particulares, o é, de facto, ausência.

Dadas estas premissas, será sensato continuar a pensar em janelas como vazios na "fachada"? ou deveremos começar a pensar nestas aberturas, como o uso de um material com corpo e massa?
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