Saturday 28 June 2008

Maison La Roche


Esta recente reaproximação a Le Corbusier levou-me a pensar noutras obras do arquitecto que tivesse experienciado. Na tentativa de entender esta coisa da "poética", fui rever as fotos da Maison La Roche, em Paris. Um arquitecto que primava pela ideia do racionalismo máximo e das máquinas, onde estava exactamente esta ideia da "poética"?


Obviamente que a poética da máquina foi (e continua a ser) desenvolvido por diversos movimentos ou arquitectos. No campo da Arquitectura, poética é geralmente usada num discurso menos ligado à automatização e mesmo à racionalidade e mais ao sentido do único, do especial, ao mundo dos sentidos.

O caso de Le corbusier é paradigmático da complexidade da Arquitectura, do projecto e de tudo o que a ele está associado. Que me seja permitida esta visão bipartida da poética, mas efectivamente a leitura pessoal que faço deste conceito leva-me a distinguir uma "poética do racional" e uma "poética do sensível" (os nomes são meramente provisórios e pretedem apenas constatar duas aproximações distintas ao projecto).


No exemplo da Maison La Roche, são óbivios alguns dos traços do pensamento racionalista de Le Corbusier, sobretudo quando observado do exterior: a geometria das caixilharias, a simplicidade dos volumes, etc. Quando no interior, as geometrias rigorosas, que também existem, proporcionam espaços de contemplação, de fruição, não se tratando já de um jogo de volumes, puro e simples, mas existe efectivamente uma ideia de espacialidade, de diferentes experiências de especialidade. Sendo óbvio que todo o processo de fazer Arquitectura passa por um processo de racionalização de conceitos e sentidos, é também verdade que em algumas obras, mesmo depois de todo um longo precurso, permanecem estas ideias de sensibilidade das formas e dos espaços.



Friday 27 June 2008

Um salto a Lisboa, uma viagem a Le Corbusier


Poupo-me desde já à caracterização da obra ou mesmo do arquitecto conhecido como Le Corbusier, da importância da sua figura bem como do contibuto que representa para a história da Arquitectura, da influência que constitui em muito do que fazemos e vemos na actualidade. Uma pesquisa rápida dará mais e melhor informação do que poderia aqui inserir.

Assim sendo, refiro-me à exposição (patente no CCB, Lisboa, até 17.08.2008) Le Corbusier - Arte da Arquitectura. Organizada pelo Vitra Design Museum Weil am Rhein, em colaboração com o Netherlands Architecture Institute e o Royal Institute of British Architects, esta constitui a maior exposição do arquitecto em Portugal.

Exposições de Arquitectura (ou de arquitectos) constituem, regra geral, um monstruário (facilitismo?) de maquetas e uns painéis (muitas vezes de qualidade gráfica duvidosa). Esta constitui de certo uma das melhores exposições (de arquitectura) que alguma vez tive a oportunidade de ver. As maquetas, elemento fundamental para a compreensão de um projecto (sobretudo por parte do público alheio a estas matérias) estavam lá, as originais (de estudo) e as feitas à posteriori. Painéis, nem vê-los. O público agradece. Em vez de isso, optou-se por mostrar os desenhos originais do arquitecto /artista. Desenhos de projecto. Desenhos de viagem. Pinturas. Esculturas. Mobiliário. Para alguém que era um desenhador compulsivo, esta será provavelmente a melhor forma de homenagear a obra e o arquitecto.

A exposição percorre os pontos altos da sua longa carreira enquanto arquitecto, mas como o próprio menciona "Não existem escultores só, pintores só, arquitectos só. O acontecimento plástico realiza-se numa forma una ao serviço da poesia" e nesta medida são mostrados os vários campos a que, de forma diferenciada, o artista foi dedicando atenção, tempo e trabalho ao longo da sua vida.

A exposição não é (nem é suposto ser) uma catalogação infinda da sua obra, mas sim um modo de dar a conhecer o carácter multifacetado da sua obra (maioritariamente conhecida do ponto de vista arquitectónico), aliando inclusivamente objectos do foro pessoal, que de alguma forma revelam as inspirações do arquitecto / artista.

A nao perder! (mesmo para os menos familiares com as lides do espaço)

Sunday 8 June 2008

Janelas


Janela é referenciada normalmente com "um vazio num pano opaco", relacionado em geral ao uso de um material transparente ou translúcido. No entanto, a ideia de vazio associado ao elemento "janela" tem-me provocado alguns momentos de reflexão. Se vazio significar ausência, se significar "zero", pode uma janela ser um vazio?

Na Idade Média, por razões que para este caso nao têm tanta relevência, as ditas janelas, aberturas nos panos verticais de um edifício, eram molduras para magníficos vitrais, cujo papel pedagógico é inquestionável, transmitindo um saber e um conjunto de conceitos que moldavam uma sociedade. Eram janelas, vazios?

Ao percorrer a cidade, em deambulações várias, encontro-me geralmente na tentação de tentar descobrir o que está por detrás deste panos transparente (fetiche voyeurista?) e normalmente aquilo que consigo captar são reflexos da realidade circundante ou momentos interiores de um quotidiano banal. Seja em que caso for, não consigo ler estes, geralmente, rectângulos de vida como ausências.

Quando no interior, e perante uma janela fechada, aquilo que o meu olhar consegue alcançar não são os reflexos, não são os quotidianos interiores, mas sim uma vida exterior. Exterior ao espaço onde estou, exterior a mim, numa acção na qual não participo.

As janelas constituem na maior parte das vezes importantes elementos na definição/ composição da própria fachada, como material sólido e corpóreo, chamados (de forma simplista e, acrescentaria, errónea) como vazios. O transparente, se o quisermos ler como vazio, só muito raramente, e em situações muito particulares, o é, de facto, ausência.

Dadas estas premissas, será sensato continuar a pensar em janelas como vazios na "fachada"? ou deveremos começar a pensar nestas aberturas, como o uso de um material com corpo e massa?

Monday 2 June 2008

Edvard Munch

(auto-retrato, 1895, litografia)
Edvard Munch, pintor Simbolista norueguês e importante expoente do movimento expressionista, nasceu em Ådalsbruk, Løten, Hedmark, a 12 de Dezembro de 1863.

A família mudou-se para Kristiania, actual Oslo, quando Edvard tinha ainda menos de um ano, sendo que aos cinco anos de idade viu a mãe morrer de tuberculose, tal como a sua irmã preferida aos quatorze. Uma das irmãs mais novas foi declarada doente mental, sendo que o próprio Edvard encontrava-se doente frequentemente. Dos cinco filhos do casal, apenas Andreas chegou a casar e mesmo este morreria poucos meses depois da cerimónia. Todos estes episódios seriam decisivos para a formação do carácter de Edvard e para a perspectiva que este criou do mundo e da vida em geral.

Em 1879, Edvard deu início aos seus estudos em engenharia, mas devido aos seus frequentes períodos de doença, viu obrigado a abandonar os seu estudos, ingressando um ano mais tarde na Escola Real de Arte e Design de Kristiania, onde teve como professores o escultor Julius Middelthun e outro ícone da pintura norueguesa, o pintor Christian Krohg.

Estilisticamente, Munch foi influenciado pelo Pós-Impressionismo, sendo que a nível de conteúdo estava próximo do Simbolismo, até que em 1892 formulou a sua característica e original Estética Sintética, sob a qual criou alguns dos seus quadros mais conhecidos. Neste mesmo ano foi convidado pela União de Artistas de Berlim para a sua exposiçãode Novembro, cujas portas foram encerradas uma semana após a abertura da exposição, devido à controvérsia criada pelos seus quadros. No entanto, a sua estadia em Berlim, permitiu-lhe o contacto com um círculo internacional de escritores, artistas e críticos, bem como o contacto com novas técnicas artísticas.

Em 1897, Much comprou uma "fiskerhytte", pequena casa de pescadores, em Åsgårdstrand, "The happy house" (hoje, um pequeno museu Munch), onde voltaria todos os verões durante os seguintes vinte anos, e onde pintou algumas das suas obras mais famosas, nomeadamente "O grito".

Em 1908, os problemas emocionais e crises de ansiedade, agravadas pelo consumo excessivo de álcool, levaram-no a um clínica especializada, onde seria tratado durante os oito meses seguintes.

Durante as décadas de 30 e 40, a sua obra foi considerada pelos Nazis como "arte degenerada" e consequentemente retirada de todos os museus alemães.

As últimas décadas da sua vida seriam passadas numa pequena casa em Skøyen, Oslo, onde morreu a 23 de Janeiro de 1944.


Madonna (a virgem)


No seguimento desta reabertura do Museu Munch, e a devolução ao público das duas obras roubadas, umas pequenas notas sobre a Madonna, a segunda obra roubada em 2004.

Madonnas há muitas, tema clássico da pintura ocidental, muito frequente sobretudo a partir do Renascimento, a Madonna representa Maria, mãe de Jesus. De acordo com os pintores clássicos e até ao século XX, esta era representada geralmente como uma mulher madura. Nesta obra de Munch por outro lado, a figura feminina é representada como uma jovem adolescente, numa pose sensual, acentuada pela nudez, pela própria torção implícita do corpo. Mantendo no entanto algumas referências às representações convencionais: uma certa tranquilidade, os olhos fechados, um sinal de modéstia, etc ...


Munch pintou cinco versões (óleo sobre tela) deste quadro entre 1894 e 1895, uma delas na posse do Museu Munch, em Oslo.


Como já foi referido, esta tela foi roubada juntamente com "O Grito", em 2004. Agora de volta ao Museu, os estragos são claros, apesar dos intensos trabalhos de restauro. Compreendo o interesse deste tipo de crime, não compreendo a ignorância a que se pode chegar ao roubar obras famosas mundialmente. Haveria interessados neste tipo de compra? Iria um eventual comprador bastardo adquirir uma obra deteriorada desta maneira durante o roubo? Há obras que são referências culturais e sociais de um país, de uma cultura, algumas de uma civilização. Será possível que o egoísmo de uns quantos abastados sem escrúpulos chegue ao ponto de querer privar o público destas referências? Ainda mais desta forma?


Sunday 1 June 2008

Vamos gritar

O quadro "O grito" aparentemente desperta a cobiça de várias pessoas. Sendo uma das pinturas mais conhecidas do pintor noruguês Edvard Munch, é suposto simbolisar a angústia existencial da espécie humana, e aparentemente existe muita gente angustiada e desesperada para a conseguir.
Neste quadro é possível ver uma figura em desespero, num passeio em Ekeberg, Oslo, com o Oslofjord ao fundo, e um céu dramático pintado em tons de amarelo e vermelho (alguns historiadores apontam para que este efeito tenha sido possível devido à erupcão de um vulcão na Indonésia Cracatoa em 1883, no entanto, quem tenha presenciado um pôr-do-sol em Oslo, reconhecerá que o céu adquire aqui cores e tonalidades perfeitamente fora do vulgar). Munch fez diversas versões desta obra com diferentes meios. As mais conhecidas, e mais valiosas, monetariamente claro está, são quatro. Uma a têmpera sobre cartão, outra com pastel (ambas no Museu Munch, Oslo), outra a óleo, têmpera e pastel sobre cartão (supostamente a original de 1893, na Galeria Nacional, Oslo) e uma quarta versão em pastel (na posse do bilionário norueguês Petter Olsen).
A versão da Galeria Nacional foi roubada em 1994, mas recuperada vários meses depois. Episódio curioso, os ladrões deixaram uma nota aquando o roubo, com as seguintes palavras "Obrigado pela fraca segunrança"
A versão em têmpera do Museu Munch, juntamente com outra obra do mesmo artista, Madonna, foi roubada em plena luz do dia, em 2004 e (ambas) recuperadas em 2006, sob condições ainda por esclarecer. Depois de um longo processo de restauro, ambas as obras estão de novo ao acesso do público. Pela primeira vez tive a oportunidade de ver estas obras, apesar dos estragos causados pelos ladrões, e não totalmente recuperados através do restauro.


A questão, no entanto permanece, num país que possui os meios que possui, como é possível ter um sistema de segurança que não evite estes episódios, sobretudo quando se tratam de obras ícone de um país? Obviamente que agora o sistema de segurança é mais apertado que um movimentado aeroporto internacional, incluindo detectores de metais (com a respectiva apreensão de isqueiros), várias portas controladas electronicamente antes de aceder finalmente à colecção e seguranças em todas as salas. Um pouco tarde, diria eu, quando os estragos estão feitos, e são visíveis mesmo aos olhares mais desatentos.

Em bom português "Casa roubada, trancas à porta."
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