Sunday 28 September 2008

American Folk Art Museum (AFAM)

Precisamente ao lado do MoMA existe um outro museu, que provavelmente passa mais despercebido (qual peso da fama!) que poderíamos chamar de Museu Americano de Arte Popular. A colecção, criada a partir de 1961, apresenta a obra de artistas auto-didactas, ou artistas não consagrados, ou seja, daqueles que estão fora do sistema que o próprio mercado da Arte criou.
O novo edício onde está instalada a colecção, inaugurado em 2001 pela mão do atelier Tod Williams & Billie Tsein, contribuiu para uma maior visibilidade da própria colecção, que, como acontece frequentemente, utiliza a arquitectura de destaque (capa) para valorizar a própria colecção (conteúdo), não necessariamente mau, dependendo do modo como tais situações são manipuladas.
No entanto, e apesar de estarem paredes-meias, a sede deste museu consegue ostentar uma fachada, pelo menos, mais apelativa que o seu vizinho Museu dos artistas consagrados (MoMA). Não que algo se possa reduzir à fachada (um projecto não são apenas fachadas), mas numa leitura talvez simplista, de análise directa de ambas as fachadas, e apesar de conceitos distintos, este AFAM desperta a curiosidade e alerta os sentidos. O dramatismo dos 3 planos que compõem a fachada, a cor cobre escolhida como material de revestimento, os reduzidos rasgos de aberturas que condicionam e direccionam a entrada de luz no edifício contrastam com a fachada do seu vizinho, mais apaziguadora, mais "limpa", menos dramática, uma fachada plana com 3 rasgos horizontais.

Curiosamente, o Museu dos não-consagrados, com a sua fachada de arquitectos não-consagrados (apesar do edifício ter ganho vários prémios de arquitectura, este casal de arquitectos permanece relativamente anónimo) desperta secretamente mais interesse que o vizinho Museu dos consagrados, com o seu arquitecto consagrado. Paradoxo? Ou sinal de uma sociedade que apenas vê Stars?

Saturday 27 September 2008

MoMA

O MoMA (Museum of Modern Art) constitui um dos museus mais influentes do mundo em termos de Arte moderna, abrangendo a sua colecção campos como a arquitectura, design, pintura, desenho, impressões, etc., não surpreendendo portanto as verdadeiras romarias e as filas intermináveis para entrar no museu. De tal forma que para conseguir observar algumas das peças é necessária uma grande dose de paciência, sobretudo no que se refere ao nomes mais sonantes de pintores do século XX.
O edifício original, projectado por Philip Goodwin e Edward Durel Stone, foi aberto ao público em 1939, sofrendo o edifício grandes obras de renovação (2002-2004) pela mão do arquitecto nipónico Yoshio Taniguchi, envolvido, como seria de esperar, em numerosas críticas e protestos.

No edifício é de salientar a organização em torno de dois espaços centrais: 1- o grande vazio interior que desempenha um papel fulcral na comunicação visual entre os diversos pisos, funcionando com ponto de refência num museu destas dimensões, evitando a sensação de desnorteo; 2- o magnífico Jardim das esculturas, pequeno Éden no centro de Nova Iorque, presença constante durante a circulação no interior do Museu, proporcionando ao mesmo tempo a entrada de uma luz natural e suave no interior das galerias.

De entre a gigantesca colecção destacaria a secção de arquitectura, com numerosos desenhos, maquetas, fotos, etc. dos mais consagrados arquitectos dos ultimos 100 anos.

Sunday 21 September 2008

Andy Warhol by Andy Warhol





(foto recolhida da internet)

O Museu Astrup Fearnley tem o orgulho de apresentar ao público a exposição mais cara alguma vez organizada na Noruega. Os números são exurbitantes, o que é perfeitamente justificado pelo facto de se tratar de um dos artistas mais cotados no mercado, bem como pelo facto de a grande maioria das obras expostas ser oriunda sobretudo da Europa e Estado Unidos. Surpreendentemente, mas talvez por se tratar do País das Maravilhas, a entrada é gratuita. (No aclamado Museu Munch o preço normal dos bilhetes é 10€ por pessoa).
Segundo a organização, esta exposição pretende mostrar o lado mais pessoal do artista, ou em que medida é que existe um lado pessoal na obra de um artista como Andy Warhol (1928-1987) ou como é possível separar o lado pessoal da obra em si. Como seria de esperar, exposição acaba por cair nas imagens mais conhecidas do artistas e nas suas preocupações/ relações com a sociedade do tempo: a guerra, as personalidades icónicas do século XX, os produtos de consumo quotidiano, a sexualidade, a morte e os auto-retratos. Destaque seja feito para um conjunto de videos do artista apresentados em diversas pequenas salas. Destaque também (ou não estivéssemos nós na Noruega) para uma intrepretação de O grito e da Madona (ambos do pintor Munch) e um retrato da Princesa Sonja (actual rainha da Noruega, na imagem).
Apesar da pequena área do Museu, foi conseguido apresentar uma parte significativa da obra do artista e como seria de esperar (mesmo num país onde o artista não é particularmente conhecido) o público afluiu de forma significativa, sobretudo crianças e bebés (e não seja usada a desculpa clássica de que eram escolas, pois tratava-se de um sábado de manhã, e íam ao colo dos pais).
Uma boa oportunidade para ver importantes obras de Andy Warhol (sobretudo os vídeos). A decorrer até 14 de Dezembro, para quem passar por estas paragens.

Saturday 20 September 2008

Guggenheim

(Richard Hamilton, The Solomon R. Gyggenheim - Architect's visual, 1965)


O Museu Guggenheim será por ventura uma das maiores atracções de Nova iorque, e com razões para isso. A Fundação Solomon R. Guggenheim foi fundada em 1937, com o objectivo específico de divulgar arte moderna e pós-moderna, ou como era chamada na época "arte não-objectiva". Nas últimas décadas, a Fundação seguiu um política, bastante polémica e controversa, de criação de diversas filiais (Veneza, Bilbau, Berlim, Las Vegas) sendo que quase todos os anos, durante os tempos mais recentes, têm sido anunciadas novas filiais pelo mundo inteiro, projectos que mais cedo ou mais tarde, e por razões diversas, acabam por ser abandonados.

Se bem que uma série de críticas tenha sido levantada pelo facto desta dispersão de museus "Guggenheim's" pelo mundo e pela entrega de tais projectos a arquitectos-estrela da cena internacional (Zaha Hadid, Rem Koolhaas, Jean Nouvel, etc), a verdade é que, no original, o projecto do primeiro museu foi também entregue a um arquitecto-estrela, já na altura, dando origem a uma obra escultórica, constituindo um marco da chamada arquitectura moderna.

Independentemente dessas questões, o Guggenheim de Nova Iorque constitui um ícone da Fundação e da própria cidade. Inaugurado em 21 de Outubro de 1959 (seis meses após a morte do arquitecto), e envolto em enormes polémicas (nomeadamente, como fixar quadros em paredes côncavas?, o que levou a uma abaixo assinado por vários artistas recusando expor neste museu), o projecto do arquitecto Frank Lloyd Wright (1867-1959) constitui o primeiro espaço permanente para a colecção da Fundação. Ao edifício original seria adicionado em 1992, uma torre rectangular, da autoria do atelier Gwathmey Siegel & Associates Architects.

Numa época em que muitas questões eram colacadas e em que o próprio paradigma da obra de arte estava em tranformação, foi considerado pelo arquitecto que o próprio paradigma da arquitectura de museus, bem como a forma de exibição de Arte deveria ser questionado. Estas questões levaram ao desenvolvimento de um projecto de museu pioneiro que tentava adaptar o espaço aos novos modos de arte, de contemplar arte, de viver a experiência artística que o século XX proporcionava.
Seguindo princípios do movimento moderno, a utilização de formas e volumes puros, Frank Lloyd Wright criou um espaço de alguma forma abstracto (relacionado também com a própria Arte a ser apresentada) recusando referências historicistas, como era então prática comum para este tipo de programa. Desde os volumes essenciais do edifício aos pormenores mais delicados, tudo obedece a estas preocupações "puristas" da arquitectura moderna. No entanto, aquele que é o aspecto mais inovador do edifício é a organização da circulação no espaço, nomeadamente, a criação de um precurso expositivo claro e assumido, através da organização do espaço através da grande espiral, apartir da qual são organizadas as obras de arte. Contrariamente a tudo o que tinha sido construído até então, e seguindo os modelos oitocentistas do museu-depósito onde o visitante é literalmente "entregue às feras", o Museu Guggenheim estabelece claramente o precurso, transformando a visita a um museu em algo mais metódico e organizado, por outro lado menos livre e pessoal.

Embora esta postura possa hoje ser questionada, a verdade é que constituiu o início de uma longa discussão sobre a arquitectura de museus, que obviamente não tem UMA resposta única e decisiva, mas que abre as portas ao repensar do espaço tendo em conta uma série de outros factores como o tipo de obra a exibir, o(s) tipo(s) de público a que se dirige, aspectos de conservação das obras, o museu enquanto ícone ou ponto marcante na paisagem urbana, etc...

Este edifício remete também para uma outra questão que é a efemeridade da arquitectura enquanto obra construída. Se bem que o interior tenha sofrido obras de restauro, aquando da expansão em 1992, o exterior tem sofrido ao longo dos últimos dois anos um cuidado processo de restauro, provando que nada é permanente e que o envelhecimento dos edifícios deve ser aceite e que deverá ser tido em conta aquando da fase de projecto.

Monday 15 September 2008

Mies e o Seagram


Finalizado em 1958, o edifício Seagram, da autoria da dupla Mies van der Rohe (1885-1969) e Philip Johnson, constitui um marco da história da arquitectura pela inovação da utilização dos seus elementos metálicos estruturais sem (supostamente) qualquer tipo de revestimento. De acordo com Mies, e com os princípios de um chamado "Estilo Internacional", o edifício deveria reflectir a sua própria estrutura, de um modo "verdadeiro" e "assumido". No entanto, devido aos regulamentos americanos contra-incêndios, um edifício não poderia ter à vista colunas de aço (por perigo de colapso em caso de exposição a altas temperaturas), assim sendo o arquitecto viu-se obrigado a revestir as colunas com perfis em I de cor bronze, que constitui aliás a imagem do edifício.


Este foi, ao tempo, o arranha-céus mais caro do mundo, tendo em conta os seus 38 pisos decorados com materiais como bronze, travertino e mármores. Uma das lendas em que está envolvida esta torre é a questão das persianas. Mies tinha horror ao desorganizado, ao aleatório, à "confusão", e consciente de que a utilização das persianas por parte dos ocupantes do edifício iria criar diferentes "fachadas", e um aspecto pouco regular, o arquitecto limitou o cerramento das persianas a três posições: aberto, meio-fechado e fechado totalmente!!! Nos dias que correm, provavelmente teríamos um enorme processo judicial por adoptar tal medida!!!

Outra das polémicas em que Mies se viu envolvido aquando deste projecto foi a não utilização de toda a área da propriedade optando pela criação de uma zona privada de carácter público, criando algo semelhante a uma praça, optando pela construção em altura, a qual o arquitecto teve de defender junto do cliente, argumentado que este "desafogo" traria uma melhor imagem ao projecto. Esta medida, bem como os métodos construtivos empregues, tornar-se-iam vulgares na construção de outros arranha-céus da cidade, sendo hoje opções completamente banais.


É certo que, com toda a construção envolvente, o edifício Seagram passa hoje despercebido, no entanto, não deixa de ser fundamental na compreensão da história dos arranha-céus, em particular, de Nova Iorque.

Friday 12 September 2008

ONU


A Sede da Organização das Nações Unidas teve por base uma proposta inicial dos históricos Oscar Niemeyer e Le Corbusier, tendo sido construído entre 1949 e 1952, mantendo-se ainda hoje como um marco na cidade de Nova Iorque. No entanto, Manhattan não foi a primeira opção, não tendo sido sequer uma decisão consensual. Como seria de esperar num projecto desta dimensão nem todas as decisões foram consensuais, e mesmo no que diz respeito aos códigos construtivos e contra-incêndios algumas das regras tiveram de ser quebradas.

O conjunto, embora actualmente um pouco apagado pelos grandes volumes envolventes, continua a ter o esplendor de um bela obra modernistas onde os traços de ambos os arquitectos-base do projecto estão bem marcados. Talvez pelo equilíbrio entre as linhas horizontais e as verticais, talvez pelo contacto com o plano de água, talvez pelo contraste com a envolvente, o conjunto desperta a atenção, sedunzindo os traseuntes.
Se em Nova Iorque, a leitura das linhas e dos planos verticais se impregna na memória, este projecto salta à vista pelo balanço entre o grande volume paralelipipédico vertical e o volume da Assembleia, mais horizontal. Consciente de que poderá não ser uma das primeiras opções numa viagem a Nova Iorque, a visita à Sede da ONU recomenda-se (visitas guiadas no interior disponíveis).

Tuesday 9 September 2008

New York, New York, Rentrée


O Verão é, para a maioria, tempo de férias, descanso, ou trabalho. As ocupacões são várias e os Apontamentos foram de férias. A famosa rentrée representa o regresso à actividade da maioria e com isso os Apontamentos voltam a ver a luz do dia como post-it's colados no ambiente mais quotidiano de qualquer vida.

Os Apontamentos deste Verão foram a paragens Nova iorquinas e são muitos e variados.

Nova Iorque é talvez uma das cidades acerca das quais foram criados mais clichés. Através do cinema, música, literatura, séries telivisivas, etc... Em grande medida, sim, corresponde. Mas não só. Nova Iorque é isso e muito mais. Do ponto de vista Urbano, Arquitectónico, Social... Nova Iorque é Um / O mundo. Sínteses? Será difícil, e receio, que as minhas competências possam não estar à altura de tal trabalho. Durante os próximos apontamentos ficarão algumas visões, obviamente pessoais, em todos os sentidos condicionadas pelo olhar do observador.

Para o "turista" europeu, não me consigo recordar de nenhuma cidade no velho Continente que, ainda que de forma simplista, possa servir como exemplo de comparação ou de aproximação a uma leitura da "Grande maçã". Nova Iorque é diferente de tudo e ao mesmo tempo é possível reconhecer "bits and pieces" do resto do mundo, seja do ponto de vista social, cultural ou arquitectónico. Nova Iorque é em muitos sentidos o que de "melhor"(?) o mundo e a cultura contemporânea têm para oferecer (ou será isto apenas mais um cliché?). Eventualmente, tudo isto soa a ideias correntes e banais, mas foi efectivamente a experiência vivida / sentida.

A cidade enquanto justaposição das mais diferentes culturas, tempos, ideias, conceitos. A cidade enquanto amálgama (Caos, se quiserem) que funciona.
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