Sunday 29 January 2006

Podia ser Siza


Estava no Porto, a luz era a mesma, o branco era o mesmo. O dia era acompanhado pelo tempo cinzento, tranquilo e uma cidade silenciosa numa manhã de Inverno.

Chegando aqui, as linhas Siza eram claras e definidas como sempre. Linhas cortantes, rasgando o espaço e definindo um conceito, clarificando volumes e planos. No entanto, algo era diferente. Não havia o contraste, a afirmação de algo, o jogo com um fundo definido, seja o verde, seja o azul… Havia o enquadramento, a “porta”, a “janela” para algo, a árvore, o mar, o jardim. Havia o cascalho e o branco imaculado. Havia a coluna, fuga (?) a uma simetria “clássica”, e tudo se conjugava numa paisagem urbana idílica e um pouco suspeita.

A dúvida persiste sobre a ideia de cidade cujos edifícios tendem a reflectir ideais “rurais”, “campestres” na construção de uma imagem de uma artificialidade por vezes chocante e clara até para os mais desprevenidos. A questão continua entre admitir o artificial ou fazer o artificial parecer tão natural que o tomamos por “natural”. Situações intermédias são… situações intermédias.

Mas a questão aqui era o Siza, o mestre. E as influências. Releituras. Cópias. Interpretações. Reinterpretações. A preocupação não era definir a categoria/ gaveta…era antes perceber o funcionamento das coisas. A espacialidade, a forma, e o modo como certos conceitos permanecem intemporais, pela relevância, pela função, pelo “gosto”…Nada nasce do nada e a “genialidade” Siza, tem raízes, origens, uma génese algures em espaços e tempos diversos. A lição era compreender que não estava num Siza mas num Le Corbusier, Maison La Roche, Paris.

No comments:

Locations of visitors to this page