Wednesday 19 March 2008

Sverre Fehn - Norsk bremuseum

No decorrer da homenagem que se está a prestar ao arquitecto Sverre Fehn, vieram-me à memória outras viagens e com elas outras obras deste arquitecto. O Norsk Bremuseum (Museu Nacional dos Glaciares), situado no coração de Fjærland, em Sogndal, data de 1991-1993.

O volume do Museu, complexo na intersecção das várias formas, mas claro pela simplicidade dessas mesmas formas, trata-se de uma das poucas intervenções presentes em todo este deserto vale, para além da própria auto-estrada que o percorre. Ao dramatismo da paisagem envolvente com as agrestes montanhas e a visão para o pouco que ainda resta dos glaciares, o arquitecto optou pela afirmação de uma marca humana no território, não numa tentativa de igualar as hercúleas montanhas escavadas pelos glaciares mas sim com a intenção de deixar uma pegada (footprint) no território.


Como é marca no trabalho do arquitecto, este projecto revela um atento cuidado no que diz respeito à utilização dos materiais e aos respectivos pormenores. Neste projecto torna-se evidente a preocupação em aliar materiais e técnicas construtivas ancestrais e tradicionais do país com materiais de uso mais corrente. A grande pala de entrada, com as asnas estruturais em madeira e cobertas por placas de xisto dialogam com a restante estrutura de betâo aparante e os panos de vidro.
Todo o espaço é encerrado por uma cobertura / miradouro plano que constitui um lugar priveligiado para a observação de todo o vale e em particular do glaciar ao fundo. Existe na criação deste plano uma ideia de redução do visitante ao seu papel insignificante perante a grandeza e esplendor de toda a paisagem em redor, diria mesmo que este espaço encerra em si um forte sentido metafísico e filosófico.

Tuesday 18 March 2008

Último trabalho de Sverre Fehn


Sverre Fehn (1914/08/14, Kongsberg, Noruega) é sem qualquer sombra de dúvida o melhor (e também o mais aclamado) arquitecto noruguês. No entanto, e apesar da qualidade material e espacial do seu trabalho, é um arquitecto desconhecido para muitos, por filosofia própria mas também associado à postura social da sua terra natal, onde a descrição é chave de ouro e postura cívica. A maior distinção foi recebida em 1997 com o Pritzker e a Medalha de ouro Heinrich Tessenow, entre outros prémios nacionais e internacionais.

Apesar de ter trabalhado com Jean Prouvé e ter conhecido pessoalmente Le Corbusier nos anos 50, em Paris, a grande maioria da sua obra encontra-se na Noruega, e quando no estrangeiro, esteve directamente ligada ao país de origem: o Pavilhâo Norueguês na Exposição Universal de Bruxelas (1958) e novamente o Pavilhão Norueguês na Bienal de Veneza (1962).


Apesar de poucos projectos terem chegado à materialidade, Sverre Fehn teve o privilégio de projectar a reabilitação e expansão do Museu de Arquitectura de Oslo, que lhe dedica a exposição inaugural (visitável até inícios de Agosto). Se o trabalho de reabilitação tem por si alguns aspectos interessantes, diria que o novo edifício é o ponto alto do projecto. Uma sala / edifício de dimensões relativamente reduzidas, mas de uma sobriedade e clareza fascinantes. O texturado betão aparente, a leveza dos painéis de vidro e sobretudo o sistema de sombreamento com um brise-soleil em vidro, o piso de madeira, e os pequenos detalhes de tratamento e apresentação da madeira fazem deste espaco algo muito tectónico, material, real, de alguma forma sensual, no sentido em que é difícil resistir a tocar / acariciar os materias, as superfícies.

Sunday 16 March 2008

"Varandas em Duplex"


"Varandas em Duplex" são geralmente situações agradáveis. Não sendo propriamente uma inovação recente, são de louvar os poucos exemplos que vão aparecendo no panorama urbano deste tipo de situação.

Pela espacialidade que incorporam, pela forma como relacionam os espaços interiores de um ponto de vista exterior, pela vivência que permitem, pela segurança que transmitem, são de certo ambientes que valorizam, quer em termos económicos quer espaciais, a habitação e a experiência do habitar.


No exemplo da imagem, um edifício recente numa cidade escondida no sul da Noruega, Larvik, há no entanto que questionar a questão luz / sombra. Numa país, e cidade, em que a luz natural não é de todo abundate, há que indagar sobre os sitemas de exposição /sombra do plano mais recuado deste espaço e os reflexos no espaço interior. Se bem que exteriormente seja um exemplo espacial que revela pensar e pesquisa, parece que funcionaria melhor num contexto mais mediterrânico onde a exposição solar é efectivamente um "problema" e existe a necessidade de criar espaços protegidos e sombreados.

A importação de modelos e a ideia de uma "arquitectura global" leva por vezes a exemplos desta natureza, jogos formais e espaciais de certo interessantes, mas pouco adaptados às realidades e contextos locais.

Casas de Verão....e de Inverno

Se nos países do sul existe esta moda, já antiga, das casas de Verão (com todos os outros associados: de fim-de-semana, de praia, de montanha, etc.) nos países nórdicos existe a moda das hytter (ou casas de Inverno, montanha, etc.).
Estas duas situações têm em comum factores como: o estarem abandonadas a maior parte do ano, a falta de preocupações arquitectónicas, a má qualidade construtiva, a criação de planos urbanísticos com preocupações meramente mercantilistas, a afirmação de uma posição social e económica acima da média.
No caso dos países nórdicos, a situação conseguiu, no entanto, surpreender pelo conjunto paradoxal de ideias e conceitos associados às hytter. A começar pela sua inserção no território, que, como seria de esperar, se encontra nos lugares mais recônditos, ao qual se acede exclusivamente através de automóvel próprio, com o argumento de se estar mais próximo da natureza, uma necessidade vital para os habitantes das cidades nórdicas, um "feel alive" que suspeito esteja mais relacionado com as origens rurais da maioria dos habitantes urbanos nórdicos, do que com qualquer filosofia da relação Homem / Natureza.
À medida que a aproximação ao local é feita, observa-se um modelo formal (e apenas formal, porque infelizmente, contrutivamente, falamos de métodos absolutamente banais) que obedece em tudo às regras que foram sendo aplicadas a longo dos últimos séculos (fazendo deste tipo de habitação um mero pastiche). Uma situação aparentemente pitoresca, em nome da preservação da imagem e tradições locais.
A entrada no espaço interno destas habitações, revela um universo em tudo contrário à imagem exterior. Sistema de aquecimento central activado por SMS horas antes da chegada ao local, electrodomésticos (frigoríficos, máquinas de lavar roupa e loiça, placas de fogão, micro-ondas, televisão, Ipod dock, etc) topo de gama, acesso a televisão por cabo, saunas última geração, etc etc etc. Perante esta situação surge a questão, qual a razão para sair da cidade e qual é o contacto com a Natureza possível nestas condições.
De alguma forma é compreensível a necessidade de abandonar os apartamentos mínusculos urbanos, fugir ao "stress" da cidade, a criação de uma meta a atingir para a qual se passam duas semanas a planear...No entanto, o "feel alive" provocado pelo contacto com a Natureza é uma pura ilusão e pretexto não fundamentado, mas aceite por todos.
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