Sunday 16 March 2008

Casas de Verão....e de Inverno

Se nos países do sul existe esta moda, já antiga, das casas de Verão (com todos os outros associados: de fim-de-semana, de praia, de montanha, etc.) nos países nórdicos existe a moda das hytter (ou casas de Inverno, montanha, etc.).
Estas duas situações têm em comum factores como: o estarem abandonadas a maior parte do ano, a falta de preocupações arquitectónicas, a má qualidade construtiva, a criação de planos urbanísticos com preocupações meramente mercantilistas, a afirmação de uma posição social e económica acima da média.
No caso dos países nórdicos, a situação conseguiu, no entanto, surpreender pelo conjunto paradoxal de ideias e conceitos associados às hytter. A começar pela sua inserção no território, que, como seria de esperar, se encontra nos lugares mais recônditos, ao qual se acede exclusivamente através de automóvel próprio, com o argumento de se estar mais próximo da natureza, uma necessidade vital para os habitantes das cidades nórdicas, um "feel alive" que suspeito esteja mais relacionado com as origens rurais da maioria dos habitantes urbanos nórdicos, do que com qualquer filosofia da relação Homem / Natureza.
À medida que a aproximação ao local é feita, observa-se um modelo formal (e apenas formal, porque infelizmente, contrutivamente, falamos de métodos absolutamente banais) que obedece em tudo às regras que foram sendo aplicadas a longo dos últimos séculos (fazendo deste tipo de habitação um mero pastiche). Uma situação aparentemente pitoresca, em nome da preservação da imagem e tradições locais.
A entrada no espaço interno destas habitações, revela um universo em tudo contrário à imagem exterior. Sistema de aquecimento central activado por SMS horas antes da chegada ao local, electrodomésticos (frigoríficos, máquinas de lavar roupa e loiça, placas de fogão, micro-ondas, televisão, Ipod dock, etc) topo de gama, acesso a televisão por cabo, saunas última geração, etc etc etc. Perante esta situação surge a questão, qual a razão para sair da cidade e qual é o contacto com a Natureza possível nestas condições.
De alguma forma é compreensível a necessidade de abandonar os apartamentos mínusculos urbanos, fugir ao "stress" da cidade, a criação de uma meta a atingir para a qual se passam duas semanas a planear...No entanto, o "feel alive" provocado pelo contacto com a Natureza é uma pura ilusão e pretexto não fundamentado, mas aceite por todos.

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