Saturday 20 September 2008

Guggenheim

(Richard Hamilton, The Solomon R. Gyggenheim - Architect's visual, 1965)


O Museu Guggenheim será por ventura uma das maiores atracções de Nova iorque, e com razões para isso. A Fundação Solomon R. Guggenheim foi fundada em 1937, com o objectivo específico de divulgar arte moderna e pós-moderna, ou como era chamada na época "arte não-objectiva". Nas últimas décadas, a Fundação seguiu um política, bastante polémica e controversa, de criação de diversas filiais (Veneza, Bilbau, Berlim, Las Vegas) sendo que quase todos os anos, durante os tempos mais recentes, têm sido anunciadas novas filiais pelo mundo inteiro, projectos que mais cedo ou mais tarde, e por razões diversas, acabam por ser abandonados.

Se bem que uma série de críticas tenha sido levantada pelo facto desta dispersão de museus "Guggenheim's" pelo mundo e pela entrega de tais projectos a arquitectos-estrela da cena internacional (Zaha Hadid, Rem Koolhaas, Jean Nouvel, etc), a verdade é que, no original, o projecto do primeiro museu foi também entregue a um arquitecto-estrela, já na altura, dando origem a uma obra escultórica, constituindo um marco da chamada arquitectura moderna.

Independentemente dessas questões, o Guggenheim de Nova Iorque constitui um ícone da Fundação e da própria cidade. Inaugurado em 21 de Outubro de 1959 (seis meses após a morte do arquitecto), e envolto em enormes polémicas (nomeadamente, como fixar quadros em paredes côncavas?, o que levou a uma abaixo assinado por vários artistas recusando expor neste museu), o projecto do arquitecto Frank Lloyd Wright (1867-1959) constitui o primeiro espaço permanente para a colecção da Fundação. Ao edifício original seria adicionado em 1992, uma torre rectangular, da autoria do atelier Gwathmey Siegel & Associates Architects.

Numa época em que muitas questões eram colacadas e em que o próprio paradigma da obra de arte estava em tranformação, foi considerado pelo arquitecto que o próprio paradigma da arquitectura de museus, bem como a forma de exibição de Arte deveria ser questionado. Estas questões levaram ao desenvolvimento de um projecto de museu pioneiro que tentava adaptar o espaço aos novos modos de arte, de contemplar arte, de viver a experiência artística que o século XX proporcionava.
Seguindo princípios do movimento moderno, a utilização de formas e volumes puros, Frank Lloyd Wright criou um espaço de alguma forma abstracto (relacionado também com a própria Arte a ser apresentada) recusando referências historicistas, como era então prática comum para este tipo de programa. Desde os volumes essenciais do edifício aos pormenores mais delicados, tudo obedece a estas preocupações "puristas" da arquitectura moderna. No entanto, aquele que é o aspecto mais inovador do edifício é a organização da circulação no espaço, nomeadamente, a criação de um precurso expositivo claro e assumido, através da organização do espaço através da grande espiral, apartir da qual são organizadas as obras de arte. Contrariamente a tudo o que tinha sido construído até então, e seguindo os modelos oitocentistas do museu-depósito onde o visitante é literalmente "entregue às feras", o Museu Guggenheim estabelece claramente o precurso, transformando a visita a um museu em algo mais metódico e organizado, por outro lado menos livre e pessoal.

Embora esta postura possa hoje ser questionada, a verdade é que constituiu o início de uma longa discussão sobre a arquitectura de museus, que obviamente não tem UMA resposta única e decisiva, mas que abre as portas ao repensar do espaço tendo em conta uma série de outros factores como o tipo de obra a exibir, o(s) tipo(s) de público a que se dirige, aspectos de conservação das obras, o museu enquanto ícone ou ponto marcante na paisagem urbana, etc...

Este edifício remete também para uma outra questão que é a efemeridade da arquitectura enquanto obra construída. Se bem que o interior tenha sofrido obras de restauro, aquando da expansão em 1992, o exterior tem sofrido ao longo dos últimos dois anos um cuidado processo de restauro, provando que nada é permanente e que o envelhecimento dos edifícios deve ser aceite e que deverá ser tido em conta aquando da fase de projecto.

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