Sunday 8 June 2008

Janelas


Janela é referenciada normalmente com "um vazio num pano opaco", relacionado em geral ao uso de um material transparente ou translúcido. No entanto, a ideia de vazio associado ao elemento "janela" tem-me provocado alguns momentos de reflexão. Se vazio significar ausência, se significar "zero", pode uma janela ser um vazio?

Na Idade Média, por razões que para este caso nao têm tanta relevência, as ditas janelas, aberturas nos panos verticais de um edifício, eram molduras para magníficos vitrais, cujo papel pedagógico é inquestionável, transmitindo um saber e um conjunto de conceitos que moldavam uma sociedade. Eram janelas, vazios?

Ao percorrer a cidade, em deambulações várias, encontro-me geralmente na tentação de tentar descobrir o que está por detrás deste panos transparente (fetiche voyeurista?) e normalmente aquilo que consigo captar são reflexos da realidade circundante ou momentos interiores de um quotidiano banal. Seja em que caso for, não consigo ler estes, geralmente, rectângulos de vida como ausências.

Quando no interior, e perante uma janela fechada, aquilo que o meu olhar consegue alcançar não são os reflexos, não são os quotidianos interiores, mas sim uma vida exterior. Exterior ao espaço onde estou, exterior a mim, numa acção na qual não participo.

As janelas constituem na maior parte das vezes importantes elementos na definição/ composição da própria fachada, como material sólido e corpóreo, chamados (de forma simplista e, acrescentaria, errónea) como vazios. O transparente, se o quisermos ler como vazio, só muito raramente, e em situações muito particulares, o é, de facto, ausência.

Dadas estas premissas, será sensato continuar a pensar em janelas como vazios na "fachada"? ou deveremos começar a pensar nestas aberturas, como o uso de um material com corpo e massa?

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