Monday, 13 February 2006

Pepperkakehus


Ao vasculhar coisas no pc, encontrei algo do qual já não me lembrava. Trata-se de uma tradição natalícia norueguesa que tive oportunidade de experimentar e interpretar: a pepperkakehus, cuja tradução em inglês é pepper cake house (a tradução para português soa-me estranha, mas acho que é compreensível o sentido).

Por épocas natalícias este povo dedica-se à culinária para fabricar estas “casinhas”, normalmente com uma linguagem tradicional e aspectos pitorescos (os de agenda mais ocupada podem comprá-la já feita). Levou-me um certo sentido experimentalista (e o facto de não fazer parte das minhas memórias de infância a casinha dos fjords) a testar até onde chegava a capacidade deste bolo. Não fiquei desiludido, pelo contrário, gostei do resultado, e não pude evitar a visão dos MVRDV e do Rem a construírem maquetas com bolo e o tamanho dos fornos. Deixo à imaginação….

(a quem experimentar, recomendo um ambiente seco, pois a minha estrutura desmoronou-se ao fim de 2 dias devido à humidade, qual Dalí).

Thursday, 9 February 2006

Fábricas

Apenas um exemplo daquilo que me parece inteligente (e pelo qual já fui chamado de promíscuo ou melhor de “proporcionar uma situação de promiscuidade”).

Trata-se da reformulação de um quarteirão (anteriormente ocupado por unidades fabris) no centro da cidade de Oslo, no qual estão presentes vários componentes que permitem uma dinamização daquela parte da cidade (embora não muito patente na foto, mas devido à neve e frio). O recinto, um misto de memórias das antigas fábricas e de edifícios novos de tijolo, é ocupado actualmente por departamentos universitários, habitação, escritórios, comércio variado, etc. convivendo paredes meias e aparentemente sem grandes conflitos (talvez por uma questão cultural, talvez porque não se trata um problema real).

A reflexão recai uma vez mais sobre o facto de se saber os benefícios destas fusões funcionais (nomeadamente a dinamização da cidade) e continuar-se com o preconceito da “promiscuidade” urbana.

Sunday, 5 February 2006

Os quadradinhos


O eterno jogo dos quadradinhos. Passeando por esta cidade de Oslo de vez em quando deparo-me com este tipo de imagem. Edifícios massivos, pesados, “grotescos”, dirão alguns, mas por estas paragens são frequentes estes mamutes de peças pré-fabricadas de betão. Pessoalmente não tenho nada contra, talvez pelas qualidades “fotogénicas” deste tipo de edificação, talvez por constituir uma origem dos jogos arquitectónicos que se vão fazendo mais recentemente, talvez pela simplicidade da linguagem, talvez pela leitura clara dos materiais. Poderiam ser muitas as razões pelas quais este tipo de “objecto” me atrai.

No entanto, tento também perceber o motivo pelo qual as pessoas à minha volta tendem o alimentar um “ódio” pessoal a estas formas. A conclusão acaba por ser: os mesmos motivos pelos quais eu me sinto atraído. Os argumentos são a “monotonia” do betão, bem como a cor cinzenta, a repetição até à exaustão da forma, a simplicidade/monumentalidade do volume, a ausência de uma hierarquia de volumes, partes em destaque…etc e tal.

No que me diz respeito olho para estes “caixas” exactamente como a peça em destaque, o ponto marcante, o acontecimento. Este em particular, é o MOMENTO desta praça, o ponto de encontro, a marca e o carácter deste espaço urbano.

Wednesday, 1 February 2006

Euralille

Percebi que o problema das livrarias por estas terras era o facto de serem sobreaquecidas, para além de estarem actualizadas com o que de mais recente é editado por esse mundo fora. Mas encontrei também algo, já com uns anos, que não deixou de me surpreender, quer pelo conteúdo quer por ser algo perfeitamente desconhecido para mim (o livro).

Este conjunto de textos revela parte daquilo que será uma das poucas intervenções em grande escala na cidade (XXL nas palavras de Rem Koolhaas), neste caso Lille, França. No fundo, trata-se da reunião de entrevistas aos mais diferentes intervenientes na recuperação/ reconstrução/ construção de raiz do centro de uma cidade europeia, com todas as questões que envolve relativamente a conservação, património e centros históricos.

As estrelas do panorama arquitectónico internacional (Koolhaas, Nouvel, Portzamparc, etc.) dão o seu testemunho, mas também todos os outros menos conhecidos dão os seus pareceres, desde engenheiros viários, engenheiros de estruturas entre muitas outras especialidades, representantes dos clientes, etc.

Aquilo que realmente se destaca deste livro é o peso do cliente na tomada de decisões. Longe do mundo académico que nos forma (e enforma?) é o cliente aquele que toma as decisões, baseadas em questões orçamentais, de “gosto”, de preconceitos, que limita /define a forma, os materiais, os acabamentos, etc. influenciando decisivamente aquilo que é a qualidade do “objecto” arquitectónico. Bem-vindas as poéticas que sobrevivam a clientes reaccionários.
Para os fãs da imagem e do grafismo, este é um livro que deixa muito a desejar. Esquiços, fotos, desenhos têm dimensões exíguas, constituindo apenas uma pequena ajuda na leitura do(s) projecto(s).

Tuesday, 31 January 2006

O Vermelho

Penso no vermelho que existe e na cor que originalmente teria. Penso no que existiria para além do que se vê. Uma fachada, uma rua, um simples beco. Não sei a história, não sei o que se passava. Sei aquilo que vejo e interrogo se é necessário saber o passado. Neste caso concreto, não me interessa.
Deixo-me seduzir pela intervenção, a cor, o contraste, o espaço público criado (pouco visto nestas cidades nórdicas). Mas talvez pelos habituais sintomas do sul, apaixono-me pelo beco, pela cor quente e pelo inusitado. Esta comunhão passado/ presente pouco visível no sul agrada-me.
Independentemente da qualidade do edifício recente, agrada-me a situação urbana e o desafio (?), a ideia de espaço urbano, a mescla de referências, gostaria de referenciar outras situações de beco em Oslo, mas sinceramente não me ocorre nada.

Deixo a sugestão: cortemos a Assembleia da República e formemos uma praça pública onde se tomem decisões, até pode ter um jardim. (foto:Oslo)

Sunday, 29 January 2006

Podia ser Siza


Estava no Porto, a luz era a mesma, o branco era o mesmo. O dia era acompanhado pelo tempo cinzento, tranquilo e uma cidade silenciosa numa manhã de Inverno.

Chegando aqui, as linhas Siza eram claras e definidas como sempre. Linhas cortantes, rasgando o espaço e definindo um conceito, clarificando volumes e planos. No entanto, algo era diferente. Não havia o contraste, a afirmação de algo, o jogo com um fundo definido, seja o verde, seja o azul… Havia o enquadramento, a “porta”, a “janela” para algo, a árvore, o mar, o jardim. Havia o cascalho e o branco imaculado. Havia a coluna, fuga (?) a uma simetria “clássica”, e tudo se conjugava numa paisagem urbana idílica e um pouco suspeita.

A dúvida persiste sobre a ideia de cidade cujos edifícios tendem a reflectir ideais “rurais”, “campestres” na construção de uma imagem de uma artificialidade por vezes chocante e clara até para os mais desprevenidos. A questão continua entre admitir o artificial ou fazer o artificial parecer tão natural que o tomamos por “natural”. Situações intermédias são… situações intermédias.

Mas a questão aqui era o Siza, o mestre. E as influências. Releituras. Cópias. Interpretações. Reinterpretações. A preocupação não era definir a categoria/ gaveta…era antes perceber o funcionamento das coisas. A espacialidade, a forma, e o modo como certos conceitos permanecem intemporais, pela relevância, pela função, pelo “gosto”…Nada nasce do nada e a “genialidade” Siza, tem raízes, origens, uma génese algures em espaços e tempos diversos. A lição era compreender que não estava num Siza mas num Le Corbusier, Maison La Roche, Paris.
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